(A cidade vista do Alto da XV sob os traços de nanquin e aquarela)
Grupo Croquis Urbanos
reúne profissionais e diletantes para registrar em desenho locais
marcantes da paisagem urbana de Curitiba
Na manhã cinza do último domingo, também para
fins românticos, o local foi ocupado por um grupo que, desde o
último mês de abril, engatou um affair com a cidade: os desenhistas
do grupo Croquis Urbanos.
Para quem ainda não viu o grupo em ação,
trata-se de uma reunião aberta de desenhistas iniciantes, amadores e
profissionais que, nas manhãs de domingo, elege paisagens marcantes
da cidade como temas para desenhos de observação livre. Estas se
transformam em poéticos registros gráficos da cidade e de seus
habitantes.
O grupo nasceu ao acaso, sob influência de um
movimento internacional de desenhos urbanos. Desde as primeiras
reuniões, em abril, até o último domingo, os integrantes já
desenharam paisagens famosas, como o Moinho Rebouças, os
casarões da Avenida Bispo Dom José, uma vila e a casa
modernista de Frederico Kirchgässner. No São Francisco, retrataram
o Paço da Liberdade e outros pontos da nossa arquitetura urbana.
No último encontro, por iniciativa de José
Marconi, professor de Design da UTFPR e pioneiro do Croquis, o
trabalho foi uma jam session de desenho. “Experimentamos um desenho
em conjunto, onde um faz uma direção de arte, põe mais cor aqui,
mais uma pincelada ali. Um desenho que nasce de vários autores, mas
acaba tendo uma unidade estética”, observa.
Ele explica que o processo foi iniciado com um
croqui geral para identificar as cenas de acordo com alguns marcos
geográficos (prédios, postes, bandeira, árvore etc.). “Depois,
cada um se dedicou a desenhar com grafite um determinado trecho. Em
seguida, um meio tom foi aplicado com aquarela, pinceladas em negro
adicionais, canetinha fina aplicada nas texturas, detalhes
contornados”, explica.
Marconi diz que o grupo, sem fins comerciais,
antevê algumas possibilidades para o futuro, como uma exposição
física das obras e um livro compilando os resultados de um ano da
experiência. “Quem sabe, no dia mundial do desenho [28 de
outubro], um grande encontro coletivo de desenhistas”, planeja.
“Ainda não sabemos aonde o processo vai chegar. Espero que seja
como o amor: infinito enquanto dure.”
Movimento mundial inspira
grupo
O coletivo de desenhistas Croquis Urbanos nasceu
influenciado pelo movimento Urban Sketchers, criado na Espanha, em
2007. Desde então, em várias cidades de muitos países surgiram
grupos com trabalhos semelhantes.
No caso curitibano, a coisa nasceu no dia em que o
desenhista José Marconi, já com a ideia na cabeça, viu o arquiteto
Reinoldo Klein de lápis na mão, desenhando a fachada do Paço da
Liberdade, no centro de Curitiba.
Veteranos
Aos dois, juntou-se o desenhista Wagner Polak,
seguido por Fabiano Vianna, Simon Taylor, Cássio Shimizu e João
Paulo de Oliveira, entre outros. Alguns, profissionais veteranos ou
professores de seus ofícios. Outros, desenhistas amadores.
A ideia principal, explica o cartunista Simon
Taylor, é que as ações sejam abertas para qualquer um que queira
participar, criando, assim, uma diversidade maior de técnicas,
olhares e linguagens.
“A atividade do desenhista, por natureza, é
solitária. Esta experiência de estarmos todos no mesmo astral faz
com que a troca de ideias seja muito rica”, explica.
“Ainda que o objetivo principal seja o prazer de
desenhar, o processo tem influenciado cada um de nós individualmente
nas nossas respectivas carreiras“, afirma.
O Croquis Urbanos tenta ser o mais inclusivo e
democrático possível. Mesmo assim, a trupe segue alguns
“mandamentos”, também inspirados pelo Urban Sketchers. O grupo
só desenha no local a partir da observação direta. A ampulheta
dura duas horas – das 10 horas ao meio-dia.
Não se fazem retoques e muito menos se usa
qualquer tipo de mídia para valorizar os trabalhos individualmente.
Ao final, os desenhos são comparados pelos integrantes, que se
apoiam mutuamente. Os trabalhos são compartilhados on-line.
Para o arquiteto Reinoldo
Klein, essas premissas possibilitam o registro da vida urbana em um
ritmo que o cotidiano nos impede de perceber. “No dia a dia, a
gente passa muito rápido pelos lugares. Este processo também é uma
maneira de deter o olhar um pouco mais lento, mais cuidadoso. Você
senta, desenha, presta atenção em cada detalhe e faz um recorte de
um instante da história daquele local.”
(Croquis Urbanos no Facebook:
www.facebook.com.br/CroquisUrbanosCuritiba)